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28/06/09

Semente do Amor


Está a chover, outra vez…
Estou no meu quarto, sozinha, sem ti. Sinto-me nua. O meu corpo está enregelado hoje, talvez por não estares cá, por não me aqueceres com a tua presença.
Estás a trabalhar, a ganhar a nossa vida. Talvez seja egoísta mas a tua ausência assombra-me.
Hoje sou fútil, não tenho ninguém com quem me preocupar porque estás longe, por isso preocupo-me comigo. Odeio o meu modo de ser, o interesse persistente pela minha imagem.
Quer dizer, por um lado até gosto. Caramba! É tão difícil ser mulher!
Cedemos tanto aos desejos, aos pecados, mas talvez seja isso o que é ser mulher. Talvez o mais complicado seja conseguir ser uma grande mulher, moderando a cedência aos desejos e pecados. Por um lado preocupamo-nos com a nossa aparência, apreciamos o processo que lideramos para nos tornarmos belas, mas, por outro lado, há dias que esses tempos que desperdiçamos parecem fúteis, desnecessários, completamente inútil.
Ser eu, é tão difícil em alguns dias. Ter sempre de corresponder a imagem que todos têm de mim, não poder cair…Fartei-me de regras estúpidas de pessoas estúpidas. Eu sou uma pessoa! Tenho o direito a cair, a não me maquilhar, a não sorrir quando estou triste, eu tenho o direito de sair de robe de casa!
Contudo isso nunca te interessou…Sempre quiseste que fosse feliz obstante aquilo que os outros opinavam. Amar-me-ias quer usasse Channel ou Feirex, nunca quiseste saber o que empregava no corpo desde que usasse aquela que para ti era minha melhor vestimenta – o sorriso. Isso sempre foi o que te fascinou, o que deslumbrou a tua alma e algemou o teu coração ao meu.
Sempre me viste como uma mulher, sempre viste para além da maquilhagem, das roupas. Sempre me amaste quer estivesse vestida a rigor, ou acabada de sair do banho. Por isso sei que não poderá existir alguém que me veja da mesma forma transparente e apaixonada, que me ame independente do intemporal.
Depois de tantas manhãs ao teu lado, não desejo outro acordar. Desejo apenas que saias do trabalho e me venhas abraçar; abraçar e curar todas as feridas que o chicote da vida abriu. Desejo ainda amar-te da mesma forma como amava quando aquela nossa “semente” nasceu há um ano; semente essa que germinou a floriu como as flores do Paraíso.
Não desejo mais que aquilo que tenho. Não quero que a chuva pare, quero que perdure, assim como este dia que deixo para trás gigantes que me pesavam nos ombros, e liberto aquele coração esfomeado para te amar.

Mísero destino.


Um dia hei-de procurar entender o Mundo, entender as pessoas, entender-me. Mas por agora sinto-me demasiado fraca para entender pessoas que me parecem de plástico, pessoas que têm atitudes automáticas, falas premeditadas e até feitas de mentiras.
O Mundo é um sítio lindo aos olhos de um surdo-mudo talvez. Talvez o Mundo seja um sítio muito melhor senão for possível enxergar toda a dor nos olhos do mais próximo mas afastado, o Mundo talvez fosse um sítio melhor se não fossemos capazes de ouvir as lamentações dos outros, as palavras que nos atingem como uma lança…
Há dias que acordo perplexa e não entendo a teia de acontecimentos da Vida. Será preferível viver de olhos vendados e descobertos à ignorância e assim levar uma vida, por assim dizer, feliz? Ou será melhor viver afogados na realidade e deixar que esta nos roube a respiração aos poucos, até esta se tornar rarefeita; será melhor viver nocente da realidade e assim não viver tão feliz? De qualquer das formas estamos condenados a morrer. Contudo temos a escolher a forma como aproveitamos o tempo que temos. E enquanto nós nos levantamos queixando da vida prostituta que nos calhou, há quem não se possa queixar pois nem sabe viver.
A questão que se põe não é como viver feliz. A questão é como é possivel viver ignorando aqueles a quem não é dada essa oportunidade - de certo que não por escolha própria- e por isso ser feliz?
A miséria não deixa de existir apenas por fecharmos os olhos quando os problemas não nos atingem com a ponta da sua lança.