Já não escrevia há sei lá quanto
tempo. Há quanto tempo eu não sei, mas sei que já não escrevia há muito.
Hoje
apeteceu-me voltar a escrever, apeteceu-me voltar-me para mim.
Estás aqui
ao meu lado a dormir, e enquanto te contemplo pensei e repensei para mim “Sabes?
A vida dá muitas voltas, mas acaba sempre por pôr tudo no seu lugar”. De certo
que me colocou do teu lado e eu afirmo veemente que esse é, indubitavelmente, o
meu lugar.
A vida é efémera,
não é? Não é que sinta que tudo passa a correr – como quem diz que o tempo me
passa ao lado -, mas sinto que o tempo é fugaz, demasiado breve para imensidão
de coisas que planeio fazer! Mas ao menos tenho essas coisas todas para fazer,
não é?
Quando me sentia à deriva, o tempo passava por mim e me
jogava para trás, como o vento faz deambular uma frágil folha de um lado para o
outro. Nessa altura talvez um dia fosse só um dia, porque tudo que eu fazia não
era, de todo, o que eu queria fazer, percebes? Mas uma vez tu disseste-me “Tens
muito tempo para ser quem tu sempre quiseste ser, sem medos”, e eu larguei o
protagonismo de débil folha e tentei caminhar contra o vento. E sabes que mais?
Enquanto me encontrava contra o tempo descobri o que queria fazer no resto do
tempo da minha vida.