Ainda me lembro das nossas longas conversas, daquelas conversas sapientes e reconfortantes que atiraram para trás das nossas costas um passado sinuoso. Ainda me lembro das piadas e do som dos nossos risos a ecoar no passar do tempo. Ainda me lembro da partilha de histórias de vida, e conselhos de quem a experiência foi mais amiga.
Ainda me lembro do primeiro dia que te conheci.
E sabes o que mais me abisma? Como a minha vida agora é a conjugação perfeita do verbo ser: Eu sou, Tu és, Nós somos. Completaste o outro lado de mim, o meu lado selvagem e indomável, e é por isso que nos damos tão bem. Não procuras extinguir o fogo do meu olhar, procuras sim, alumia-lo; não procuras pôr pedras no meu caminho, mas sim levanta-las quando me faltarem as forças; não procuras enclausurar-me numa gaiola, mas sim libertar-me das amarras da vida. Procuras acima de tudo fazer-me feliz, e isso consola o meu coração que viveu morto de dor.
Sabes, por vezes, quando caminhamos lado a lado, imagino as nossas pegadas na areia. Arquitecto o recorte perfeito dos nossos pés no areal, e vislumbro-o a permanecer inerte depois da lavagem do mar. Continuo a apontar um rasto de pegadas marcadas na areia como em cimento puro. Talvez esta não seja a metáfora mais singela, mas o que quero dizer é que nos imagino fortes e divergentes do banal. Olhamos o mundo como quem olha por um caleidoscópio, deslumbramo-nos com as cores e formas, mas o importante é que as vemos com a mesma intensidade, e isso permite-nos um entendimento mútuo surreal. A capacidade de ver por os olhos um do outro permite sentir o que as palavras não conseguem explicar.
Imagino-nos a permanecer intactos apesar das adversidades da vida, tal como as pegadas se mantinham intocáveis perante o deslize das águas salgadas.
Não deste uma volta à minha vida, acho que a enrolaste em verdade absoluta e me mostraste o Mundo. E agora que o vejo, sorrio permanentemente.
Haverá drogas que causem esta intoxicação que eu sinto, este estado embriagado de felicidade, mas, esses mesmos narcóticos apenas estarão a envenenar o corpo e a mente, enquanto tu, revitalizas aquilo que eu julguei ter morrido antes de nascer.
Não importas, és necessário.
M.
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