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21/02/15

Strip Tease

Vi a chuva e deu-me uma vontade imensa de me atirar a ela. De a sentir em mim e de a deixar desfilar na minha pele como uma bailarina. Vi a chuva e deixei-me que ela me fascinasse com a sua dança sensual de quem bem sabe o que faz e que, por isso, cativa tão melhor que aquele que é analfabeto aos sentidos. Deixei que ela se despisse diante dos meus olhos cegos e me toldasse o bom senso de menina, fisgando-me com a sua aptidão maquiavelicamente sapiente.   
Por isso abri a porta e, de pés descalços, corri para ela, sem amarras, sem receios, sem medo de não conseguir suportar o frio decadente do outro lado da janela. E ali estava ela. Refrescante como sempre, escorria-me pelo pescoço pelos caminhos já tão habituais à sua destreza e eu deixei-me embalar na sua canção de ninfa; deixei-me intoxicar pela prontidão das suas notas de sedução e a minha mente já não me pertencia – já não era mais eu, mas sim uma marioneta da chuva e dessa valsa tão perigosa que me arrebata e me faz outra mulher.    
Hoje vi a chuva e apeteceu-me molhar-me. 

19/02/15

Haunted





Minha querida,
A minha alma não estava à venda e mesmo assim, apropriaste-te dela e tornaste-a mais tua do que minha. Agora, passo os dias com fome de viver, fome de ti.
Estás tão perto do meu pensamento e tão longe do meu toque e eu aqui te escrevo para o caso de me procurares saberes que a minha morada é a tua, que o meu coração é teu. Para saberes que mesmo que cego ao teu rosto ele não se esfuma da minha memória, ele não se varre de todas as coisas que me fazem evocar a tua imagem 
Quando chegares, aqui estou eu, um homem apaixonado e um louco desmesurado, que espera por ti todos os dias - embora ainda não tenhas chegado. Quando vieres saberei que és tu, pois tomaste os meus sonhos de assalto e eu sei, seu demónio, que não existe um dia que não atormentes este coração escravo – talvez pelo prazer que te dá, talvez por também eu te entreter os pensamentos. Sei isto como o ar que respiro, como o sangue que floresce pelas minhas veias. Sei que és perigosa e me consomes o espírito, mas é isso que me puxa para ti. Não fosses tu uma droga para este corpo que já não manejo, para este tempo que insiste em passar sem que tu sejas minha.
Por isso, espero por ti. Porque sei que me vais amar como quem ama sem medidas, que vais fazer este cego contemplar sentimentos que chicoteiam um coração morto, que vais fazer este surdo ouvir canções de alívio para esta alma torturada pela tua falta.
Sei que não posso dar mais um passo na tua direção, pois não és tu mais do que uma assombração, uma peripécia da minha mente fantasiosa, mas…o teu amor é de carne e osso e sei que me procuras tanto como eu e, por isso, meu amor eu estou aqui.
Quiçá não seja eu mais um louco desta ficção a que chamam vida, quem sabe eu não sou mais do que um homem assombrado por um demónio que me infesta os pensamentos diários e me consome a alma com ideias torturantes de ti. Sim, quem sabe. Mas a culpa é tua, ninguém te deu autorização para entrares na minha vida, para invadires os meus sonhos e os meus pensamentos e para os usares para teu bel-prazer, amarrando-me a ti.

Moth

Hoje lembrei de te lembrar, lembrar o que quando se lembra incendeia as entranhas.
Lembrei o ledo fogo que queima sem doer, que arrepanha a tua pele, que faz do teu psicológico um joguete de menino e te arrebata contra uma parede, que flameja palavras que te tiram o fôlego. Hum, como queima sem doer. E este vislumbre de ti, das pequenas coisas que me tiravam fora de mim, como queima. E não fosse eu fascinada por tudo que queima, tudo que estala na pele mas não te esvai em sangue, tudo que te faz ser louca sem enlouquecer de vez, tudo que te move sem caíres, tudo que é fogo que incendeia mas sem queimar. Tal e qual traça encantada pela luz que incandesce, lembrei-me de me lembrar do fogo que arde sem doer.

Rainha do Xadrez

Desde que me lembro que sou uma junkie e uma exímia jogadora deste jogo a que chamo viver. E que perigosidade a de transformar tudo o que me rodeia em peças de um jogo que estou demasiado habituada a jogar. Se calhar é melhor explicar, tal e qual jogo de xadrez, as regras que me movem todos os dias, em todas as situaçoes.
1) Jamais uma peça deve ser tocada, a não ser que saibas exatamente como efectuar a jogada. Por isso, analisa e age em conformidade com o teu objetivo.
2) Deve existir sempre um plano prévio, e nada do que faças deve ser executado ao calhas. É necessário antecipar todas as jogadas posteriores, quer tuas como as do adversário.
3) Lutar até ao fim pode dar a ideia de “falta de visão de jogo”, por isso, quando a derrota é inevitável há que sair graciosamente, ou pelo menos deixar a outra parte acreditar que o xeque-mate é possível.
4) Quando possuis mais peças no tabuleiro que o teu adversário, joga-as com inteligência e assim ele ficará sem saída.
5) O domínio e a ocupação de pontos estratégicos são a condição básica para a obtenção de superioridade posicional e a garantia de êxito das nossas manobras tácticas.
6) A peça mais prazerosa de movimentar é a Rainha, pois tem a liberdade de se movimentar elegantemente pelo tabuleiro.
7) Embora os peões sejam, aparentemenete, as peças com menor valor no jogo são eles os mais fáceis de jogar.
O resto das regras são minhas e tu és livre de fazer as tuas. Alias, não posso eu revelar todos os meus truques. Tao simples e no entanto tao calculista, tao determinado, tao…viciante. E sabem qual é o problema deste tipo de regras? Tornam-te tao bom no que fazes que nao sobram jogadores à tua medida.

Mi matas

Sabes uma coisa?
Ainda me deixas louca cada vez que me beijas o pescoço, ou mordiscas o ombro.
Ainda me deixas louca quando passeias as mãos pelas minhas costas, ou quando brincas com os meus joelhos.
Ainda me deixas arrebatada quando passas por mim empregando um cheiro delicioso, no entanto, másculo; ainda me deixas alienada quando me fitas por uns momentos silenciosos e me dizes que sou linda.
Ainda me deixas louca cada vez que me ligas para ter uma conversa de circunstância.
Ainda me deixas meia atarantada cada vez que encostas o teu nariz no meu.
(...)
Podia continuar numa lista infinita de loucuras, mas para quê?
 A verdade, é que me deixas louca.